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MPS IIIA: terapia gênica pode chegar em breve

No universo das doenças raras, a Síndrome de Sanfilippo tipo A (MPS IIIA) continua sendo uma das condições mais desafiadoras, e também uma das que mais têm mobilizado esforços científicos globais. Afetando principalmente o sistema nervoso central, a doença neurodegenerativa de origem genética ainda não conta com terapias modificadoras aprovadas. No entanto, as perspectivas mudaram significativamente no último ano. “O cenário segue promissor, mas agora com avanços mais concretos, especialmente na área da terapia gênica”, afirma o médico geneticista Roberto Giugliani, cofundador e diretor executivo da Casa dos Raros. Segundo ele, a empresa norte-americana Ultragenyx submeteu recentemente ao FDA (a agência reguladora de medicamentos dos EUA) um pedido de aprovação para sua terapia gênica voltada à MPS IIIA, desenvolvida a partir de um projeto iniciado pela Abeona Therapeutics. A técnica consiste na administração intravenosa de um vetor viral contendo o gene funcional, com o objetivo de restaurar a produção da enzima afetada pela mutação.

INOVAÇÕES - Embora a terapia gênica esteja em destaque, outras estratégias também seguem avançando. “Há estudos importantes utilizando enzimas modificadas capazes de ultrapassar a barreira hematoencefálica, e outros que aplicam diretamente a enzima no sistema nervoso central, por meio de um dispositivo implantado na calota craniana”, explica Giugliani. 

Duas dessas iniciativas, conduzidas pelas empresas JCR (Japão) e Denali (EUA), apostam na chamada “proteína de fusão”, que une a enzima terapêutica a uma molécula transportadora que consegue atravessar a barreira entre o sangue e o sistema nervoso, e assim chegando ao cérebro.

PROGRESSOS - Já a farmacêutica sul-coreana GC Pharma foca na administração direta de enzimas no sistema nervoso. “O que temos visto são resultados promissores, especialmente quando o tratamento é iniciado em fases precoces da doença”, reforça Giugliani. Ele também destaca, em relação à terapia gênica, que tanto as abordagens in vivo (com vetores virais diretamente no paciente) quanto ex vivo (modificação genética de células do próprio paciente, posteriormente reintroduzidas) estão demonstrando eficácia.

BRASIL - Embora esses ensaios estejam, por ora, restritos ao exterior, a Casa dos Raros tem atuado ativamente para preparar o país para essa nova era terapêutica. “Estamos acompanhando de perto os protocolos em desenvolvimento e buscando identificar precocemente os pacientes que poderão ser elegíveis para essas terapias”, destaca Giugliani.

“O cenário segue promissor, mas agora com avanços mais concretos, especialmente na área da terapia gênica”

AGILIDADE - Apesar do entusiasmo, Giugliani é direto ao apontar o principal obstáculo para o sucesso dessas terapias: o tempo. “Precisamos de intervenções muito precoces, muitas vezes antes mesmo dos primeiros sintomas. Isso exige não apenas testes sofisticados, mas também estratégias de triagem populacional, como o teste do pezinho”, enfatiza.

TRIAGEM NEONATAL - Com base nessa visão, a Casa dos Raros está empenhada em pesquisar sobre diagnóstico neonatal da MPS IIIA. “Como uma das principais barreiras paa o sucesso do tratamento será a idade ao diagnóstico, estamos desenvolvendo estratégias que incluem a criação de novos biomarcadores que talvez permitam no futuro incluir a MPS IIIA no teste do pezinho”, revela o médico.

O que é a MPS IIIA (Síndrome de Sanfilippo A)?

Trata-se de uma doença genética rara do grupo das mucopolissacaridoses, causada pela deficiência da enzima heparan N-sulfatase. Isso leva ao acúmulo de substâncias tóxicas no cérebro, provocando regressão cognitiva e motora, além de sintomas comportamentais. A condição é progressiva e afeta crianças desde os primeiros anos de vida.